segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O que é o amor...?





De manhã escureço,



De dia tardo,



De tarde anoiteço,



De noite ardo...






Monólogo de Orfeu






Mulher mais adorada!



Agora que não estás, deixa que rompa



O meu peito em soluços!



Te enrustiste



Em minha vida; e cada hora que passa



É mais por que te amar, a hora derrama



O seu óleo de amor, em mim, amada...



E sabes de uma coisa?



Cada vez



Que o sofrimento vem, essa saudade



De estar perto, se longe, ou estar mais perto



Se perto, – que é que eu sei!



Essa agonia



De viver fraco, o peito extravasado



O mel correndo; essa incapacidade



De me sentir mais eu,



Orfeu; tudo isso



Que é bem capaz de confundir o espírito



De um homem – nada disso tem importância



Quando tu chegas com essa charla antiga



Esse contentamento, essa harmonia



Esse corpo!



E me dizes essas coisas



Que me dão essa força, essa coragem



Esse orgulho de rei.



Ah, minha Eurídice



Meu verso, meu silêncio, minha música!



Nunca fujas de mim!



Sem ti sou nada



Sou coisa sem razão, jogada, sou



Pedra rolada.



Orfeu menos Eurídice...Coisa incompreensível!



A existência



Sem ti é como olhar para um relógio



Só com o ponteiro dos minutos.



Tu



És a hora, és o que dá sentido



E direção ao tempo, minha amiga



Mais querida!



Qual mãe, qual pai, qual nada!



A beleza da vida és tu, amadaMilhões amada!



Ah!



Criatura!



Quem poderia pensar que Orfeu: Orfeu



Cujo violão é a vida da cidade



E cuja fala, como o vento à flor



Despetala as mulheres - que ele, Orfeu



Ficasse assim rendido aos teus encantos!



Mulata, pele escura, dente branco



Vai teu caminho que eu vou te seguindo



No pensamento e aqui me deixo rente



Quando voltares, pela lua cheia



Para os braços sem fim do teu amigo!



Vai tua vida, pássaro contente



Vai tua vida que estarei contigo!










eu te amo...












Ah, se já perdemos a noção da hora






Se juntos já jogamos tudo fora






Me conta agora como hei de partir






Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios






Rompi com o mundo, queimei meus navios






Me diz pra onde é que inda posso ir






Se nós, nas travessuras das noites eternas






Já confundimos tanto as nossas pernas






Diz com que pernas eu devo seguir






Se entornaste a nossa sorte pelo chão






Se na bagunça do teu coração






Meu sangue errou de veia e se perdeu






Como, se na desordem do armário embutido






Meu paletó enlaça o teu vestido






E o meu sapato inda pisa no teu






Como, se nos amamos feito dois pagãos






Teus seios inda estão nas minhas mãos






Me explica com que cara eu vou sair






Não, acho que estás se fazendo de tonta






Te dei meus olhos pra tomares conta






Agora conta como hei de partir...











Nenhum comentário: